26 de out. de 2007

As diferenças entre Argentina e Brasil no cinema.


Tropa de Elite (Brasil 2007) / XXY(Argentina 2006)

Caros amigos, eu estava refletindo sobre as diferenças entre o cinema brasileiro e o cinema argentino nos últimos dias. Me perguntaram há um tempo atrás por que o cinema argentino produz em maior quantidade e qualidade que o cinema brasileiro. Eu, no exato momento, não tive a resposta e pedi um tempo hábil para pensar sobre. Como uma conclusão definitiva é muito difícil, prefiri expor as razões mais visíveis. Com cautela iremos fechar o círculo desse raciocínio e tentar chegar a alguma conclusão. A priori um país produz bons filmes se tiver um berço cultural apto para o mesmo, lembrando que, todas as obras são lançadas, mas atingir a imortalidade e permanecer na memória são questões completamente distintas. Vamos a primeira pergunta que faço para chegar a um raciocínio. Quando começou o "BOOM" do cine argentino? Logicamente eles produzem muita coisa há anos, mas o cinema novo argentino começou (na minha opinião) com “Tango” de Carlos Saura e dali em diante não parou mais. Acredito que nesses últimos 10 anos de produção os argentinos abordam temas mais atrativos (não que o mesmo não ocorra com as obras brasileiras). A mentalidade do brasileiro, infelizmente, ainda não é capaz de aceitar certas coisas. Falar sobre anomalias (ex: “XXY” filme com Ricardo Darín) ainda não é possível em nosso país. Os argentinos trazem temáticas muito mais interessantes, mas a minha pergunta é: Será que gostamos mais das obras por que são feitas lá fora? Se fossem produzidas aqui em nossa pátria daríamos o devido valor? Pensemos se essas mesmas películas fossem rodadas pelo Brasil, será que as idolatraríamos assim? Será que não produzimos coisas tão boas assim? Será que não estamos fazendo um desdem das nossas obras cinematográficas? O ano de 2007 já pode ser encarado como um ano bom para o cinema nacional. Mas o quero dizer é: Nós não estamos tão atrás assim, temos boas idéias. A questão toda é a cultura argentina que é muito diferente da nossa. Em nosso país temos uma hipocresia disfarçada. Existe um falso moralismo, mas não vou fundo nessa questão. A questão da mentalidade de aceitar certos temas e valorizar o que é seu, o argentino, infelizmente(mais uma vez), ainda está muito na frente dos brasileiros.

Outra questão que acho importante ressaltar é a economica. Um país só pode produzir obras de qualidade se a sua economia ajudar, sendo assim existe uma mistura de cultura e mercado consunidor, logo aparecem os lucros. É lamentável que para fazer cinema você deva produzir algo que só serve para o consumo, no sentido financeiro da coisa, é mais importante e satisfatória se for compensar o investimento feito. Para existir esse retorno é necessário o consumidor. Quem vai comprar a idéia proposta pelo diretor? Só mentalidades culturalemnte evoluídas são capazes de tal. O mercado consumidor argentino não tem pudores. Eles não tem pudor em falar sobre determiando tema pois sabem que o consumidor das suas idéias irá procurar enxergar com outros olhos, não com um olhar preconceituoso como ocorre em nosso país. Sobre a economia, muitos podem se perguntar: Mas a Argentina é inferior ecnomicamente que o Brasil? Não, a resposta é simples e objetiva, porém vem uma outra questão que é a linguística. Como hoje em dia no cinema, o mercado consumidor mais forte se encontra centralizado nos E.U.A e na Europa, a Argentina faz muitas co-produções com a Espanha devido a questão da língua. Ela não arca com as despesas solitariamente. Conta com a solidariedade de um grande parceiro, os espanhóis. Esta, por sinal, é a porta de entrada para as películas argentinas na Europa. Ganhar o mercado europeu significa maior presença em grandes festivais de cinema como Mallorca, Veneza, Berlin e Cannes. Feito isso, o que falta? Nada, o mercado já está ganho, as películas ganham vida e são valorizadas como obras cinematográficas. Com qual país o Brasil poderia fazer co-produção afim de entrar no mercado Europeu? Portugal? Os lusitanos não possuem tradição na Europa. O próprio Manoel Oliveira está fazendo filmes na França (vide “Belle Toujours”).

Concluíndo: Os argentinos não estão na nossa frente nas idéias e sim no mercado. Se lá eles possuem o apoio da INCAA, nós temos a Lei do Audiovisual, a lei de incentivo a Cultura, o Programa Petrobrás Cultural que seleciona muitas idéias. Não são as idéias e sim as mentalidades, mercado consumidor mais evoluído e parcerias com grandes centros europeus aliados a língua. Espero ter sido claro nas minhas idéias. Não sou dono da razão, apenas procurei refleitr sobre o tema nos últimos dias.




*Trailer dos filmes Tropa de Elite e XXY respectivamente.

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